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Foi nesse dia que surgiu o ego, depois de mim, uma leve fragrância que se converteu em atenção.
 
Era uma onda de mar, e era eu, espalhado no oceano infinito, de infinita beleza, porque profunda, porque triste, porque só...
 
E criei-me, a partir do próprio hálito criei-me...
 
E há milhares de milhões de ondas, reflexos de sol e mar, na superfície entre dois mundos.
 
Mas eu, eu, eu não sou o mar, nem a atenção que dele reveste o Sol,
 
eu sou as ondas e as estrelas da manhã e da noite, eu sou o vendaval e o espírito de todas as coisas, eu sou
 
o leme e o barqueiro
 
o som e a flauta
 
o Ser que habita
 
a si próprio...
 
Ouço as ondas e o mar que me chamam, uma parte dura de mim ainda existe. E todos os homens que nele já alguma vez mergulharam dizem: vem, a água está óptima... Mas eu não quero ir, tenho o corpo ainda aquecido por um sol, e lá haverá todos os sois do universo. E como saberei qual é o meu?
 
Agarro-me como uma planta à crosta da água, da areia, da rocha, não quero sair daqui, por mais fugaz e volátil e falsa que seja a minha carapaça, continuarei...
 
A ser eu, um só, na noite infindável dos tempos em que milhares de homens se fundiram ao mar...
 
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Terá sido por medo que se criou este redemoinho a que chamei eu, ou simplesmente inconsciência?
 
Mas agora quero manter-me, na grande noite do mar, vigilante, desperto, único, um pouco mais, antes da morte suprema, antes do adeus ao mundo,
 
eu sou, agora...
um
 
p

 Um só
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"On the seashore of endless worlds children meet
 On the seashore of endless worlds is the great meeting of children."   (Tagore)
And they come and go...