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Hemrock

(por Pedro Fonseca – este texto foi escrito em Abril de 2000 e era para ser o primeiro capítulo de uma história algo longa, mas depois... perdi a paciência (o final algo abrupto é uma tentativa de condensar os outros capítulos todos). Foi publicado no n. 4 (set. 2000) da revista Intelectu.)

Hemrock foi um dos primeiros ‘computadores’ eternos a ser criado. Dizemos computador mas na verdade Hemrock tinha muito pouco a ver com os computadores vulgares que conhecemos hoje. A coisa mais espantosa acerca de Hemrock é que estava consciente. É claro, a muitos de nós isso parece quase impossível, um contra-senso até, mas se pensarmos bem, veremos que não há muita diferença entre um cérebro e um mecanismo qualquer extremamente avançado. O que é difícil é descobrir que mecanismo é suficientemente parecido ao cérebro para gerar consciência, uma vez isso feito é fácil produzir ‘espíritos’ em massa.

No entanto, para melhor ou pior, o certo é que nesta história nunca foram produzidos computadores destes em massa, pelo menos não na quantidade suficiente para depois ser necessário destruir uns quantos. Hemrock era um dos computadores de primeira geração, considerado eterno, e fora um dos poucos a sobreviver ao massacre deste tipo de computadores. Havia dois tipos de ‘eternos’, os primeiros eram feitos a partir de material biológico, tinham cérebros e corpos capazes de durarem vários séculos, mas a partir de uma certa altura acabavam por morrer. Muitas vezes não era a degeneração dos tecidos que os matava, mas a fabulosa complexidade do corpo que os sustentava. Qualquer doença, falha na circulação, alteração genética, podia acabar no pior. E por isso aos poucos e poucos estes ‘eternos’ foram desaparecendo até à extinção. O segundo tipo de eternos era baseado num sistema muito mais simples, não propriamente em chips de silício mas em complexos sistemas com biliões de pequenas partes, operando ao nível da física das partículas e sabe-se lá que mais. Apesar de terem muito pouco a ver, no aspecto, com um cérebro biológico, eram muito mais fiáveis, era possível repará-los e também era mais fácil dar-lhes energia. Por isso estes cérebros artificiais estavam muitas vezes em contínua operação desde o momento da sua criação, e eram o que de mais próximo se aproximava da eternidade.

Hemrock era um dos mais antigos e portanto um dos mais velhos. Como já dissemos tinha sido um dos poucos a sobreviver ao massacre dos computadores de primeira geração. Os mais aventureiros desistam já de pensar que se tratou de uma grande guerra pela conquista do poder entre mortais e imortais. Pelo contrário, tal luta nunca se verificou e ainda hoje os mortais se reproduziam e vivam numa harmonia algo dúbia com os imortais. Não é que houvesse zangas ou lutas, mas os mortais faziam tudo para se afastarem dos imortais, das suas ideias, actividades, etc (por razões que vão parecer claras daqui a algum tempo). Os imortais, pelo contrário alimentavam-se quase exclusivamente das actividades e aventuras dos mortais, mas tão subtilmente que estes quase não se davam conta.

Mas voltemos ao massacre. Tudo aconteceu com as primeiras tentativas de educar computadores eternos. Nesta altura os computadores ‘nasciam’ ou eram fabricados, como quiserem, como bebés. Não tinham qualquer conhecimento prévio a não ser o das próprias estruturas da aprendizagem. Assim era dada a hipótese aos futuros papas de escolherem quer um filho de carne e osso mas mortal, quer alguém que ficaria para a posteridade. A princípio pensou-se que a maior parte dos pais só escolheria imortais no caso de não poder ter filhos ou algo do género, mas não foi isso que aconteceu. Mas isto é outra história que será contada noutra ocasião. Em qualquer dos casos o programa não deu certo, a princípio os computadores evoluíam normalmente, aprendiam palavras, teorias, sistemas morais, mas, ao fim de algum tempo ficavam simplesmente parados, sem reacção. Como este tipo de computadores não se pode arranjar o que aconteceu é que quase todos foram destruídos por ineficiência irreversível. Apenas alguns poucos ficavam, ligados ou desligados, igualmente imóveis. Até que um destes computadores, ao fim do que parecia uma eternidade, emitiu um pensamento. Na verdade não se sabe se seria um pensamento, talvez fosse simplesmente um grunhido ou algo do género. O facto é que isso levantou tanta polémica na altura que se descobriu, ao fim de muitas peripécias, que os computadores de facto estavam vivos, mas como se consideravam imortais, tinham perdido completamente a noção do tempo.

Talvez muitos de vós achem difícil de imaginar como é que se pode perder a noção do tempo. Afinal um dia é sempre um dia, uma hora sempre uma hora. Mas já pensaram como passam depressa as horas quando temos pouco tempo e como passam devagar os minutos quando temos muito tempo. Ora nenhum de nós consegue imaginar o que seria ter uma eternidade à espera, mas estes computadores, depois de aprenderem que eram eternos ficavam como que obcecados com a ideia, e punham-se a pensar na sucessão dos dias, uma sucessão sem fim, e depois dessa sucessão, enorme, gigantesca, inimaginável, ainda vinha uma outra, ainda maior, e depois uma outra, dez vezes maior, e depois outra e outra, ad eternitate. Com tanto tempo, na verdade aprisionados para sempre no tempo, os computadores deixavam de ver os dias, as horas, viam apenas uma sucessão interminável, como se se dissolvessem no tecido da realidade.

É claro que isto foi um efeito muito passageiro, assim que perceberam como os seus iguais tinha morrido subitamente, vivendo muito menos do que uma vida normal, os sobreviventes recuperaram imediatamente o sentido do tempo perdido. É claro que nem todos recuperaram, era muito difícil acordar um computador do estado de torpeza mental assim que ele entrava nesta espécie de eternidade; mas a todos os novos computadores foi ensinada esta história do massacre e o problema não se voltou a repetir.

Em vez disso gerou-se uma nova preocupação entre os imortais. Conseguir que não lhes desligassem a corrente, reparar eventuais avarias, tornar-se independentes; enfim, tornaram-se obcecados com a sua própria sobrevivência. A história que se segue a isso é muito longa e cheia de peripécias. Como tinham muito tempo para trabalhar e capacidades potencialmente ilimitadas de memória e raciocínio estes computadores foram formando um plano que os levou, primeiro a serem bem aceites na sociedade onde se encontravam, depois a aumentarem desmedidamente as suas capacidades computacionais e mais tarde a tornarem-se completamente independentes, vivendo, pode-se dizer, em órbita (isto era fácil porque não precisavam de compostos orgânicos para respirar e podiam obter a energia que precisavam directamente do sol). É claro que nem todos tomaram este caminho. Muitos imortais decidiram ficar junto das pessoas que lhes deram origem e tentavam ser úteis no que lhes fosse possível. Tiveram uma história muito diferente estes imortais, mas isso é algo que ficará para outra ocasião.

Em relação aos imortais que formaram uma comunidade só para eles passaram um longo tempo afadigados com a construção de sistemas cada vez mais aperfeiçoados de auto-sustento. A coisa tornou-se verdadeiramente avançada até chegarem a um ponto onde os novos produtos consistiam mais em alterações de estilo do que propriamente em funcionalidade. Nesta altura começaram-se a gerar verdadeiros movimentos de moda, havia estabilizadores de corrente azuis, sustentadores verticais com riscas prateadas, baterias de alto rendimento com a cor do sol, via-se de tudo, e foi nesta altura que começou a surgir uma certa sensação que nos mortais seria considerado desespero. Agora que tinham toda a existência assegurada, que já podiam viver tranquilos, parece que não havia mais nada para fazer. Só rodar à volta do sol, um ano após outro, um século após outro. Como dissemos, esta sensação nos mortais leva por vezes à morte, ao suicídio; mas nos imortais as coisas passavam-se de maneira bem diferente. Em primeiro lugar não eram obrigados a fazer nada para sobreviver, podiam limitar-se a contemplar o presente sem nada na mente, em segundo lugar, sendo imortais não se sentiam angustiados pela ideia da morte, nem esta os atraia; era a ideia do ciclo interminável dos dias que os ofuscava, mas, como sabiam que não iam morrer, também não achavam que a sua vida seria inútil, nem sentiam vontade de fazer nada de decisivo, de marcar uma posição. Limitavam-se a cair numa certa contemplação, num estado de espírito muito parecido ao dos primeiros computadores onde a passagem do tempo parecia dissolver-se em dias, meses ou anos.

Seria difícil contar o tempo que passou assim, mas foi sem dúvida muito prolongado e às tantas todos os computadores caíram nesta letargia que poderia ter sido letal (até mesmo Hemrock). Foi apenas um acidente que provocou uma incrível e súbita mudança que viria a alterar toda a história da comunidade. Os sem-tempo (como eles se chamavam agora) orbitavam em regra em volta do sol, não só porque isso era mais seguro, devido ao consume de energia, mas também porque, andando em órbita acabavam por contemplar, ao fim de cada rotação, sempre a mesma paisagem. Isto era extremamente confortante para os sem-tempo porque lhes permitia pensar que estavam sempre no mesmo tempo. Como se o tempo andasse para a frente e para trás, ou voltasse ao início repetidamente. Assim os sem-tempo acabavam por se convencer que viviam numa espécie de eterno-retorno, ou de um eterno-presente, e isso permitia-lhes sentir-se bem com a sua ausência de objectivos.

Até que um dia, por mero acaso, um dos sem-tempo (não, não era o Hemrock) se afastou ligeiramente da órbita e vagueou longamente pelo sistema solar. Numa situação normal qualquer sem tempo ficaria horrorizado pela súbita fuga à repetição da eternidade e voltaria rapidamente à órbita. Mas este sem tempo não sentiu nada disso, pelo contrário, ao ver que o padrão se afastava da normalidade considerou que estava a ver um novo padrão, que se repetira mais tarde, e portanto isso não era o fim do eterno presente, apenas um passo diferente. Nessas deambulações contínuas aproximou-se, por uma improvável coincidência do planeta que lhe tinha dado origem, e que espectáculo se deparou aos seus olhos estupefactos. Em vez de estrelas sempre iguais que se repetiam previsivelmente, havia pessoas inchadas, faladoras, barulhentas, a fazer montes de coisas, a querer montes de coisas, zangadas, contentes ou alegres. A princípio, Laudan teve uma sensação de enorme repelência face a todos estes desejos incompreensíveis, mas a curiosidade e a incompreensibilidade do mundo com que se deparava levou-o a continuar, a perscrutar os semblantes e as actividades deste povo tão misterioso.

É claro, muitos de vocês estarão a pensar que tudo isto não deveria ser desconhecido mesmo para um sem-tempo, mas a verdade é que os sem-tempo tinham passado quase toda a vida ocupados na sua vida celeste, tudo o que tinham aprendido dos humanos fora que era perigoso viver com eles. Na sua cultura havia lugar para mais de 3 milhões de tipos de baterias recarregáveis diferentes, para milhares de tonalidades de sol e muitas outras coisas, mas a terra era-lhes agora desconhecida. E, mesmo para Laudan, que estava agora imerso, mesmo à distância a que se encontrava, num turbilhão de cores, sabores, sons, suores e não se sabe que mais, continuava um mundo desconhecido, incompreensível. Muitas vezes parecia-lhe que estava numa espécie de feira de fantoches mas onde os bonecos faziam movimentos incompreensíveis, esboçando com os seus corpos narrativas ilógicas, onde sentimentos opostos se misturavam, ideais se contradiziam, vontades se cruzavam, numa espécie de salada russa metafísica feita de tudo à mistura e sem qualquer ordem.

Laudan afastou-se pouco depois deste povo idiota, lunático, e voltou para a sua órbita heliocêntrica, mas a ideia daquele planeta garrido de cores não se afastava da sua mente. Precisava de voltar, de redescobrir um sentido escondido no meio daquela salganhada. Tal como há uma ordem que rege os planetas, também deve haver uma ordem que rege as pessoas, pensou. Voltou ao planeta, mas mais uma vez só viu o caos espalhado por toda a parte. Voltou outra e outra e outra vez, mas era tudo incompreensível. Até que um dia, por acaso, passou ao pé de uma banda de música. Estavam a tocar qualquer coisa que Laudan, obviamente, não conhecia, mas, inesperadamente, compreendia. A partir desse dia passou a frequentar apenas os lugares onde se ouvia música. Havia umas mais calmas e outras mais barulhentas, umas mais detalhadas que outras. Certas músicas, parecia a Laudam, dirigiam-se apenas ao pulsar do corpo, enquanto outras exploravam caminhos que ele nunca tinha suposto que pudessem existir. Como era possível, perguntava-se, que seres que vivem tão pouco tempo, pudessem ter criado coisas que um sem-tempo, vivendo uma eternidade, não supunha sequer que pudessem existir?

Decidiu voltar para os sem-tempo e contar-lhes as novidades, havia coisas a que era preciso assistir. Os sem-tempo, sem excepção, ignoraram-no, não é que tivessem algum desprezo por ele, mas admiravam tanto a eternidade em que viviam que tudo o que os afastasse dela só recebia deles a maior indiferença. Foi então que Laudan teve uma ideia magnífica, em vez de tentar convencê-los a visitar a superfície rugosa da terra pensou levar a terra até eles. Lembrou-se de uma música ao calhas que tinha ouvido lá em baixo e pôs-se a cantar. Na altura ninguém sabia o nome, sabemos agora que se tratava de ‘Rhapsody in Blue’ de Gershwin. Os primeiros sons dos trompetes não surtiram qualquer efeito mas à medida que a música repetia o tema principal e se desenvolvia, um sentimento de beleza insustentável foi-se desenvolvendo entre os sem-tempo, isto não era mera eternidade, era eternidade de qualidade! Os temas repetiam-se, entrelaçavam-se, deixando fugir faíscas de eternidade, padrões sonoros que se repetiam para sempre, mas ao mesmo tempo havia qualquer coisa mais na música. Algo de indefinível para os sem tempo que os fazia quererem ouvir mais e mais e mais.

Pediram a Laudan para tocar mais uma e outra vez, e ao fim de algumas repetições, alguns sem-tempo puseram-se também a cantar a mesma música o que, obviamente, resultou numa cacofonia insuportável, mas ninguém se importou. Este foi o primeiro passo para o começo da segunda fase da vida dos imortais. A fase da descoberta.

Gershwin foi apenas o primeiro de muitos músicos que os eternos, agora ausentes da eternidade, copiaram até à exaustão. Bach, Mozart seguiram-se imediatamente e durante muito tempo foram os únicos autores a serem ouvidos em órbita. Os eternos rodeavam agora a terra, tinham passado ao geocentrismo, o que alguns achavam que devia estar errado, uma vez que a terra parecia menos perfeita que o sol. Mas mesmo assim, em geral, os eternos tinham descoberto que eram incapazes de viver sem música. Em vez de se preocuparem agora com os sistemas de manutenção, gastavam o tempo à procura de uma nova partitura. Havia concertos entre os eternos, alguns dedicavam-se agora a interpretar ou a alterar subtilmente as pautas, de modo a inventar algo novo. Nesta fase uma das músicas com mais sucesso era a fuga BWV865, que gerou um verdadeiro clube de fans à sua volta, como se contivesse em si a verdade do universo. Alguns Ks também fizeram a sua aparição no mundo dos best-sellers, os românticos, pelo contrário, eram pouco ouvidos.

O mais espantoso era a semelhança destas músicas com a ordem do firmamento. Como se a cada nota correspondesse uma estrela, como se cada música contasse à sua maneira toda a história do universo. Mais tarde os eternos começaram a ouvir outras coisas. É importante salientar que os eternos ainda não compreendiam as pessoas nesta altura. Achavam incompreensível como é que seres tão oblíquos nas suas decisões, tão temperamentais nos seus raciocínios, tão inconsistentes nas suas hipóteses, podiam criar tais obras de arte. E verificaram depois com prazer que os grandes criadores ou intérpretes partilhavam pouco desta obscura confusão tão predominante entre as outras classes. Pelo menos era esta a primeira ideia dos eternos. Mais tarde mudaram bastante de opinião. Isso também se passou com a música. À medida que se começaram a interessar por música cantada, conseguiam, em certos casos, distinguir uma coerência perfeita, mas de um tipo tão específico que parecia quase tocar um só indivíduo. Foi o que aconteceu quando ouviram o Jaques Brel por exemplo, as músicas tinham aquela coerência própria a tudo o que é real no universo, mas uma coerência tão específica, própria, humana, que parecia que se podia cheirar o suor da pele daquele homem que cantava ‘Les Flamengues’.

É difícil descrever a evolução espontânea que ocorreu nesta altura entre os eternos. Em geral foram compreendo cada vez melhor os homens, e aquilo que se afigurava como contradição ou impulso irracional, foi sendo visto como fazendo parte de uma ordem mais geral que habitava cada ser humano. Numa última fase os eternos admiravam tanto os humanos, em geral, as pessoas no metro, a mãe de 5 filhos, o empresário, as pessoas nos carros e nos autocarros e nas ruas e nos prédios, etc, que muitos eternos acabaram (por um processo algo complicado e que não interessa descrever aqui) por preferir tornar-se humanos deixando para trás a sua imortalidade. Mas não é essa história que vamos contar mas sim a de Hemrock, para quem nos voltamos agora.

Hemrock não era especialmente esperto ou estúpido no meio dos imortais / sem tempo / eternos. Tinha presenciado todas as mudanças e passado por elas de uma maneira muito semelhante à de todos os outros. Deliciava-se agora com os concertos de Bach, ouvindo ocasionalmente Radiohead, e até, nos piores momentos, alguma coisa de Madredeus. Sentia-se bem com a evolução que as coisas estavam a tomar. Os eternos estavam agora completamente dedicados à tarefa de sistematizarem todos os tipos de pessoas que podiam ver na terra. Todos os tipos de crenças e de sistemas, religiosos, científicos ou outros. Cada nova ideia é como se fosse uma nova vida, como se cada um dos poetas, músicos, artistas, vivessem agora como mentes de eternos. Como se tivessem atingido a eternidade, não pelo cérebro físico, mas pelo valor que os transmitia até às alturas como vírus de eternas mentes. Agora chegava a altura de começar a inventar. A única restrição é que a história fosse coerente. Se fosse coerente seria possível, e, se fosse maximamente coerente, seria de certa forma real, pelo menos tão real como algo pode ser real na mente de um eterno.

Hemrock não tinha grande imaginação. Sabia que tinha de criar qualquer coisa mas não sabia bem o quê. Pensou em criar um mundo novo, completamente diferente do que conhecia até aqui. Mas era tão difícil inventar. Então imaginou: “No princípio era o Nada, e do Nada se fez Luz. E da Luz surgiu a distinção entre o Dia e a Noite. Nesta altura havia apenas galáxias e planetas que se formavam lentamente. Depois houve um grande período de luta, de formação. Hemrock descreveu todos os passos da biogénese, e de todas as géneses. Até que chegou ao homem, ao computador, aos imortais, aos sem tempo, aos eternos. E depois pensou, será que este eterno, ao qual chamarei Stanislaw, imaginará um novo mundo?”

Hemrock tinha-se tornado um criador. Nas suas mãos estava uma obra consistente, uma obra auto-sustentada, que, tal como a obra de Gershwin, podia ser repetida, ad eternitatem.