contos - poesia - e-mail

–    É importante ir ao essencial, sem estar com rodeios!
–    E o meu essencial é… nada.
–    Tantos botõezinhos que tu tens… Botõezinhos de prazer, botões da dor…
–    E tu gostas de ir a eles.
–    De ver como reages…
–    Mas achas que me conheces? Assim?
–    Sei como funcionas, as inseguranças, os sítios que têm de ser preenchidos, as necessidades satisfeitas…
–    … e então…
–    E então crio as necessidades, deixo-te vir até mim, preencho-te, gostas deste McDonalds?
–    McDonalds! – i’m lovin’ it – http://www.mcdonalds.pt/, mas gosto porque estou contigo!
–    E se não estivesses?
–    Ia-me embora, aliás, se me conhecesses bem, sabias que nunca cá estive.
–    E no entanto, comes. Comes e adoras. Que tal esse chicken, o sundae, as batatinhas?
–    Como e adoro e fico dependente. A barriga cresce e incha, o corpo alimenta-se até morrer, procura os sítios e as horas, como uma máquina em busca de um sentido, segura e insatisfeita - inconsciente. Mas, eu, já te disse, eu, não estou cá. … Voo livre, não me conheces.
–    Mas conheço bem os teus botões…
–    Eu sei, aprendes-te com grande esforço, a localizá-los, a manejá-los, e, com grande prazer, a sorver de mim as respostas porque anseias. A dependência que te alimenta, com que me alicias para eu depois te alimentar. Mas, digo-te outra vez, não me conheces, não me possuis. Sou nada.
–    Conheço os teus botões, carrego no que diz: “vem para mim” e tu vens. Carrego no que diz “goza” e tu ris-te. E há uma variedade deles para as fugas, os cantos, os desejos de um mundo melhor, as aspirações, os medos... Conheço-te, conheço os teus botões, como a palma das minhas mãos.
–    Então saberias, que eu sou nada, que não ligo ao McDonalds, nem ao teu corpo, nem à tua mente, mas que estou contigo pelo teu nada, para que voe até às águas do mar, e seja livre sobre todo o mundo.
–    Se não fosse o McDonalds já teríamos morrido à fome (com a comida que fazes!! ^_^)
–    E então teríamos renascido. Eu sou nada, repara (nisto tira de uma pistola, encosta-a à própria nuca e dispara – um barulho ensurdecedor ouve-se, um segundo passa como se fosse uma hora)

Após o silêncio os pássaros recomeçam a cantar, ao longe o barulho dos carros, as nuvens espraiam-se sobre cidades e o mar, ao longe o chamamento, ao longe o rio…

E, em toda a parte…


                                         o Todo…