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No "notícias magazine" (uma edição do jornal de notícias e diário de notícias) de 11 de Dezembro diz-se:

"A quantidade de receptores 5HT1A e de serotonina no cérebro das pessoas que demonstram maior religiosidade é diferente - causa ou consequência?" (36)

A pergunta é interessante. Hoje em dia, parece um facto científico indiscutível que as pessoas que vêem Deus no mundo têm maiores níveis de serotonina no cérebro e menor número de receptores 5HT1A, mas será que isso é a causa de elas verem Deus no mundo, ou será apenas uma adaptação do cérebro, a essa visão, uma consequência dessa visão?

A revista continua com um artigo relacionado: um estudo feito a 126 mil pessoas (entre 1977 e 1999) mostra que os crentes "viviam em média 29% mais tempo que os não crentes". Ora aqui não se pergunta: será que é o facto de as pessoas viverem mais tempo que faz com que sejam crentes ou o contrário? Porque a resposta é óbvia: a maneira como encaramos a vida determina a ansiedade que temos perante a morte, a confiança de que 'tudo está a nosso favor', que no fim, tudo terá uma resolução justa. Essa confiança tem um importante papel em todos os aspectos da nossa vida, desde a alimentação, à estabilidade dos laços afectivos, ao tipo de relações que estabelecemos com os outros, etc. Portanto, parece óbvio que, pelo menos neste caso, é a visão que influencia o mundo físico (a longevidade) e não o contrário.

Mas, no caso do cérebro, a situação já não é tão óbvia, porque a administração de substâncias parecidas com a serotonina, como o LSD e os chamados 'cogumenlos mágicos' (psilocibina), podem, segundo os cientistas, gerar "esta extática sensação de fusão com Deus" do tipo que, por exemplo, Santa Teresa de Ávila, ou os monges budistas sentem nos seus estados de comunhão com o cosmos (os exemplos são da revista).

A conclusão a retirar deste estudo é simples e óbvia a qualquer leitor civilizado:

Porquê pagar montes de dinheiro por uma droga como o LSD, que o pode deixar louco e na prisão, se pode atingir os mesmos estados através da meditação budista? Não só é mais barato, como parece aumentar a esperança de vida, funcionando como um ansiolítico. Não interessa se Deus é causa ou consequência, verdadeiro ou ilusão, o que é importante é que funciona, e se funciona bem, tem o seu lugar assegurado nesta nossa 'organizada' sociedade. Talvez no futuro se possam até descontar as despesas religiosas no IRS como despesas de saúde. E em vez dos tradicionais modos de apelo à religião, se comecem a ouvir sondagens tipo: a nossa religião dá até 35% mais tempo de vida, a nossa reduz a ansiedade em 50%, a nossa elimina o problema da ejaculação precoce, a nossa elimina a perda de cabelo, etc...

Assim se percebe o título da capa daquela edição: Deus veio para ficar (juntamente com as X-Box as Play Station e as Rave Parties...). Se até esta sociedade altamente 'civilizada' e eficiente a toda a prova tem lugar para Ele...

^_^ p.


p.