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Boas!! Gostava de saber a vossa opinião sobre “o que é um Mestre?”
Quando penso num Mestre, penso em algo como aquilo que sugerem as imagens em anexo.
Um Mestre:
Outro Mestre:
Ainda outro Mestre:
Ora hoje recebi este texto do Agostinho da Silva (está no fim)
que, fazendo um auto-retrato, fala sobre o que é um Mestre. O texto
agitou-me um pouco, porque, para mim, um mestre ideal seria uma planta,
uma pedra, o Cosmos... Acho que não gostaria de ser discípulo do tipo
de mestre que ele descreve (mas amigo sim). Mas se uma mera planta pode
ser um mestre porque teremos de ser tão exigentes com as pessoas? Não
será mesmo a pessoa mais ‘miserável’ (o pedinte, o político vigarista,
o homicida), um mestre em potencial? Talvez seja uma incapacidade
pessoal que me faz não conseguir ver, o Bush por exemplo, como um
Mestre, no mesmo sentido das plantas e das estrelas... como Magia e
Esplendor da madrugada... Mas o que seria ser ‘discípulo’ do Bush?
Seria ver o mundo pequenino como ele vê? Ou há outra maneira – o mundo
é tão grande que somos todos mestres e discípulos uns dos outros?
É verdade que as plantas e os astros não dizem que estou a ser parvo ou
o que devo ou não fazer, pensar ou ser. Mas as pessoas agridem,
pressionam, interferem. E é difícil ver a beleza no Bush por exemplo,
quando pensamos que ele pode estar a ajudar a criar um mundo onde,
daqui a cem anos, não haja pessoas, dizimadas por armas biológicas ou
outras. E onde, mesmo hoje, se esteja a criar um planeta cada vez mais
policiado, interferindo com a nossa liberdade.
Quando pensamos numa pessoa como nosso Mestre pessoal imaginamos que,
mesmo se agride, o faz “para nosso bem”. E procuramos obedecer,
seguimos, até aos mínimos pormenores, porque confiamos, pensamos que
assim chegamos a bom porto. O oposto do Mestre é aquele que vemos a
atravessar-se no nosso caminho, cerceando a nossa progressão. Nesta
visão ele é o contrário do Mestre e nós o contrário do discípulo. E
assim, se for preciso, voltamo-nos contra ele, como quem se volta
contra uma prisão, como uma tempestade em fúria. Assegurando a nossa
verdade e os nossos valores, ao arrepio do que esse pretenso Mestre
(mais carniceiro, mais carcereiro), nos diz para fazer, para pensar,
para ser.
Uma pedra não diz nada. É muda. Mas, nesse silêncio, fala o tempo
através dela. Não é ela que fala, é apenas um veículo (um alucinogénio)
que, como uma oração sentida, nos transporta para um mundo maior. Na
pedra vemos então a verdade de um mundo que nos transcende e nos
engloba, intimamente e exteriormente e a qualquer outro nível. Estamos
num processo, e tudo faz parte dele. É o todo que se encontra ali,
visível por entre as sombras da realidade parcial.
E então, nessa visão, o Bush também faz parte dele, e o Bin Laden
também. Fazem (fazemos) todos parte da mesma Sagrada realidade.
E então o Papa, o Rajneesh, o Rimpochê, e o sacana do Bush são todos
sagrados. E, nessa perspectiva, são todos Mestres (ou melhor, o amor
que os move, é Mestre). É a perspectiva do Todo, onde só existe o Amor
e todos agem por Amor e para haver mais Amor.
Ganda pedra!!
Enfim... Nesta perspectiva sou discípulo mas ainda mais livre: o Mestre
já não manda em mim, inspira-me, comove-me, sintoniza-me com aquilo que
sou; a realidade dele ajuda-me a sintonizar com a minha própria
realidade. Revejo nele, como numa sala de espelhos, milhões de
fragmentos de realidade espalhados pelo universo.
Talvez o verdadeiro Mestre seja aquele que tem a chave mestra que lhe
permite ver em todas as coisas a beleza e magia do transcendente, mesmo
naquelas que o destroem (enquanto indivíduo), ou melhor, que o
dissolvem. Nesta perspectiva, quanto mais somos picuinhas em relação ao
que um Mestre deve ser, mais imperfeita seria a nossa chave.
Será assim ou estarei radicalmente enganado? Será que o Mestre só
desaparece quando não há Amor? E qual a diferença entre o Bush e o
Rajneesh? E o que podemos dar a um mestre? Se tudo é um mestre, o que
podemos dar? Só temos a receber? E isto aplica-se ao Hitler? Realmente
gostava de saber a vossa opinião, mesmo que fosse só para dizer, como o
meu sobrinho diz: “és um totozinho!!”
^_^
PS – para quem quiser, uma versão maior da imagem da NASA encontra-se aqui.
PS2 - Sinto-me sempre muito tosco quando falo nestas coisas (é mais
verdadeiro, bonito e profundo olhar um entardecer), sorry a quem sentir
o mesmo, faço o que consigo e partilho para receber as opiniões dos
outros 'mestres'... (é como fazer as fases do Kung Fu no otaima, um
desastre, mas é fixe partilhar!!)
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Texto de Agostinho da Silva
“Ora o mestre não se fez para rir; é de
facto um mestre aquele de que os outros se riem, aquele de que troçam
todos os prudentes e todos os bem estabelecidos; pertence-lhe ser
extravagante, defender os ideais absurdos, acreditar num futuro de
generosidade e de justiça, despojar-se ele próprio de comodidades e de
bens, viver incerta vida, ser junto dos irmãos homens e da irmã
Natureza inteligência e piedade; a ninguém terá rancor, saberá
compreender todas as cóleras e todos os desprezos, pagará o mal com o
bem, num esforço obstinado para que o ódio desapareça do mundo; não
verá no aluno um inimigo natural, mas o mais belo dom que lhe poderiam
conceder; perante ele e os outros nenhum desejo de domínio; o mestre é
o homem que não manda; aconselha e canaliza, apazigua e abranda; não é
a palavra que incendeia, é a palavra que faz renascer o canto alegre do
pastor depois da tempestade; não o interessa vencer, nem ficar em boa
posição; tornar alguém melhor – eis todo o seu programa; para si mesmo,
a dádiva contínua, a humildade e o amor do próximo.
Para que me fique inteira esta figura do professor hei-de
juntar-lhe uma curiosidade universal, uma helénica elasticidade e
juventude espiritual: não o quero especialista, porque a sua missão não
está em transmitir uma ciência; [...] Há-de pois ter o espírito aberto
a todas as correntes, nau pronta a sulcar todos os mares; mais do que a
ninguém compete-lhe ter uma ideia do mundo tão perfeita quanto
possível; como o havemos de imaginar completamente ignorante neste ou
naquele domínio ? Esta exigência lhe assegura uma vida de trabalho,
horas todas ocupadas e férteis e contínuos projectos; por consequência
a mocidade, o entusiasmo e a alegria que requer a missão pedagógica” -
Agostinho da Silva, “Projecto de um mestre”, Considerações [1944], in
Textos e Ensaios Filosóficos, I, Lisboa, Âncora Editora, 1999, pp.
104-105.