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(1) Os Guardiões do Conhecimento - (2) Ensinar a Criatividade? - (3) Viver livre em sociedade -
(4) «I celebrate myself» – O Guru dentro de nós

040512 Pontas Soltas – Conversas com Guilherme da Luz



I – Os Guardiões do Conhecimento

 

Pedro — Em relação àquilo que falámos da última vez, eu queria abrir umas chavetazinhas que podíamos depois acrescentar. Uma delas é em relação à ciência. Nós falámos que a ciência era muito Yang, demos o exemplo da florzinha ...

Guilherme — ... no sentido em que a ciência quer controlar, prever, as repetições...

P: Eu só queria fazer um pequeno aparte, porque acho que, embora isso seja verdade no "mainstream", depois há muitas excepções...

G: Excepções de pessoas ou...?

P: Pessoas e...

G: Ah! Pessoas, e não no método científico, pois não?

P: Por um lado as pessoas, por exemplo o Carl Sagan...

G: Claro...

P: ... ou o Oliver Sacks, que é um neurólogo muito interessado pelo lado direito do cérebro e procura explorar muito uma outra maneira de abordar a neurologia...

G: Sim, sim...

P: Mas, por outro lado, certas áreas da ciência, por exemplo a Astrofísica, a Astronomia, são teorias quase filosóficas, ou melhor são científicas, mas onde há um grande maravilhamento com o universo, onde não estás propriamente a tentar manipular o planeta, mas a tentar compreender...

G: Mas espera aí, tudo o que é investigação tem que ter essa abordagem... mas não é só aí, é em todos os campos onde há investigação, tem que haver essa abordagem. Se bem me lembro, o método científico é composto por uma observação, depois há a hipótese, e a hipótese tem a ver com isso. Quando tens uma hipótese acerca de como poderá ser, tens de ter esse aspecto do maravilhamento. Tudo onde for dado um «salto», seja onde for, tem de ter esse aspecto de maravilhamento. Os investigadores têm isso e têm que ter isso... e isso não é só na Astrofísica, é em todo o lado.

Mas é uma fase, ou seja, sem dúvida que as pessoas, quando estão conectadas com as coisas, já têm esse maravilhamento e essa reciprocidade que é o que lhes permite ter acesso a «outras bibliotecas». Isto segundo uma teoria segundo a qual existem infinitas bibliotecas e em relação às quais – consoante nós vamos amadurecendo, ou seja, sabendo lidar com as coisas e tendo um sentido mais criativo – vamos tendo acesso. Ou seja, segundo esta teoria, as coisas, os conhecimentos, já existiam; e a maneira como as pessoas estavam a abordar a necessidade de descobrir esse fenómeno, de acordo com a maneira como elas abordaram toda a situação, assim tiveram acesso a esse conhecimento. Só que essas pessoas são muito especiais; outro tipo de pessoas têm mais necessidade de dominar, e essas pessoas não vão tão longe.

P: Pois, a grande maioria da ciência se calhar não tem tanto a ver com essa parte criativa mas tem mais a ver com... há um historiador da ciência, o Kuhn, que divide a ciência em dois tipos: a «ciência revolucionária» – que é a ciência que se procura afastar um bocado da tradição, e são os cientistas que são mais rebeldes e procuram encontrar a verdade, têm essa sede – e depois há aquilo que ele chama «ciência normal», que é aquilo a que ele chama mop-up work, que são as pessoas que ficam com os restos, que vão tentar resolver os pormenores deixados pelas grandes teorias...

G: São as pessoas que mantêm a tradição, mantêm a cultura... Sim, mas isso é assim em todo o lado. Mesmo em outras ciências ou outros domínios de conhecimento. A espiritualidade também é um conhecimento, a teologia também é um conhecimento, e também aí vês a mesma coisa: há as pessoas que são os mais conservadores, aqueles que mantêm as teorias, os dogmas, e depois há aqueles que estão lá para a frente. Mas isso acontece em todos os campos do saber, em tudo o que possas imaginar, nas terapias, na astrologia, etc, são aquelas pessoas que vão preservar o conhecimento, ou seja, que são os guardiões do conhecimento. E há pessoas que são mesmo assim, é o caso do Narciso [do livro de Herman Hesse, Narciso e Goldmundo ], são os guardiões...

 

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