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(1) Os Guardiões do Conhecimento - (2) Ensinar a Criatividade? - (3) Viver livre em sociedade -
(4) «I celebrate myself» – O Guru dentro de nós

040512 Pontas Soltas – Conversas com Guilherme da Luz



II – É possível ensinar a Criatividade?

 

P: Isso leva-me a uma outra pergunta: como é que nós...

G: Nós quem?

P: Nós os dois neste caso, ou nós enquanto grupo de Kung Fu, ou enquanto pensadores ou enquanto...

G: Entrevistadores :) ...

P: Como é que nós nos podemos assegurar que isto não vai ser transformado numa cena moralista, dogmática...

G: ...isto o quê?...

P: Isto que estamos a dizer! O que é que faz com que isto não seja transformado numa regra...

G: Há sempre esse perigo em todo o lado. Se a linguagem for mais abrangente é mais difícil isso acontecer, tal como foi a linguagem do Tao, foi muito difícil fazerem dogmas rígidos à volta do Tao.

P: Mas mesmo assim fizeram-se...

G: Mesmo assim fizeram-se... Há esse perigo, mas isso... faz parte do universo, as coisas poderem acontecer assim. À minha volta não vai acontecer de certeza. Agora, pessoas que saiam daqui e vão fazer isso para outro lado, é possível... Mas é assim mesmo, faz parte da vida, faz parte do real. Isso aconteceu com muita gente, o Bruce Lee foi altamente revolucionário, e no entanto muitas pessoas que estão com ele não são nada revolucionárias: estão a pisar pegadas. E no entanto eles lêem e dizem, de cor, o que o Bruce Lee diz: tens de descobrir a tua verdade, não podes seguir o teu instrutor, etc. E elas pegam naquilo como num dogma, uns são a favor, outros são contra mas vai tudo dar ao mesmo.

Mas isso não é problema meu, eu respondo no presente e garanto minimamente o futuro, mas mais que isso não posso fazer nem ninguém pode fazer porque é mesmo assim: as coisas têm um crescimento, têm um apogeu, e depois têm uma degradação; seja o que for. E não se perde nada com isso, porque o conhecimento está sempre disponível, é como se existissem bibliotecas. E, quando as pessoas amadurecem, aquilo que têm, aquele conhecimento que têm aqui, se souberem utilizá-lo bem, têm naturalmente acesso a outros, a outras bibliotecas. Naturalmente algo à tua volta, ou alguém, te diz alguma coisa, há uma sincronicidade, encontras alguém, etc; e é um «trepar» que quando a gente quer... É como Cristo dizia «bates à porta e as portas abrem-se», mas o Rajneesh ainda diz mais: «as portas estão sempre abertas». (risos). Por isso nunca há problema com nada neste mundo, se isto se vai estragar, se o conhecimento se perde, não há problema nenhum com isso, nunca houve problema nenhum, está sempre tudo disponível para nós, basta sabermos ler.

P: No fundo é a tal questão do envolvimento de que tínhamos falado.

G: É...

P: E é a cena do caminho individual, por mais que se diga e por mais que...

G: Vimos a este mundo sozinhos e vamos partir sozinhos mas, se estamos juntos, é porque tem uma função; e essa função é muito boa, essa partilha. Este sítio é um sítio tremendo de possibilidades de evolução; perigoso, mas extraordinário. É a mesma coisa que nós estarmos muito confortáveis na nossa casa com aquecimento, com boa comida, com todos os meios, que bom, excelente! Mas depois há uma altura em que nos apetece ir para o campo, dormir uma noite desconfortável, e esta viagem foi uma espécie disso. Ou ir para sítios adversos, ir ter com pessoas, sei lá... para o perigo. E a viagem a este planeta é isso.

P: Essa partilha?

G: Esta possibilidade de experimentar, esta possibilidade de ter contacto com algo muito rico, mas algo também muito perigoso e muito contraditório...

 

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