índice - kung fu - e-mail

Kung Fu - 10 anos depois

(escrevi isto na esperança de que as palavras não corrompessem a experiência,
apesar de, quase certamente, ser uma esperança infundada)

Não foi propriamente por vontade que me afastei dos treinos do Guilherme, simplesmente aconteceu, mas voltar, agora, dá-me a sensação do iniciante... que acho que depois se perde. Portanto é melhor anotar alguns pensamentos:

Primeiro: porquê fazer Kung Fu? Bem, é giro e tudo mais. Mas para mim isso não seria suficiente. Nem o aspeto físico, nem o aspeto marcial, sendo "giros", seriam suficientes para me atrair. O problema é que há tantas, mas tantas coisas giras que seria difícil afastar-me tanto do meu caminho e gastar dinheiro que neste momento não tenho para fazer uma arte marcial, por melhor que fosse. Afinal, não tem qualquer utilidade prática. Vivo em paz / amor com todos os que me rodeiam e afasto-me de situações, mesmo que minimamente, tensas. Tenho uma vida simples, rodeado de pessoas a quem amo e que me amam, a última coisa que preciso é de saber lutar! ^_^

Mas há algo que o Kung Fu ensinado pelo Gui (seja o Flor de Lótus ou o To'A) tem e que não me lembro de ter encontrado em qualquer outra atividade humana que eu tenha realizado: uma sensação de totalidade que abrange não só o aspeto espiritual mas também físico.

Uma das razões para ser tão raro encontrar essa "totalidade" é que pouca gente a tem. Nós vivemos muito divididos, há quem persiga muito o aspeto físico e consegue fazer coisas incríveis a esse nível, há quem desenvolva muito o aspeto mental ou artístico ou espiritual e consegue ver e fazer coisas extraordinárias...

Por outro lado a ideia de juntar o físico ao espiritual é vulgar nas tradições orientais, mas, do que eu conheço, pratica-se mais como uma meta ou disciplina: vais atingir isto, por exemplo, um maior controle, uma maior visão, um maior poder, etc. No KF do Guilherme, vive-se mais uma libertação. Para mim as palavras não são muito importantes neste KF, e muito menos as teorias. É mais a libertação do animal, mas uma libertação lúcida, bem acolhida pelos restantes níveis, um "estar acordado" em que não há uma maneira certa de pensar, de agir, de ser, exceto esta: com totalidade. E a totalidade exprime-se de maneira única, artística, para cada um.

Ontem no treino o Gui disse: cada gesto que fazemos pode ser uma obra de arte.

Mas no contexto, significava também isto: que uma obra de arte era o end result da nossa totalidade, de todo o nosso ser que, íntegro, fluído, unido, resultava naquele momento, naquela acção.

No fundo, o que me atrai no KF do Guilherme, o que me leva a disponibilizar dinheiro que não tenho e tempo que me é precioso, é isto: a Libertação que procuro. Libertação dos medos, das paranóias, dos objetivos, dos percursos pré-estabelecidos, das aspirações, das expectativas, dos grilhões da mente... e... simplesmente, viver o momento. Viver o momento!

pla! Sou eu, sou o cosmos, sou feliz e íntegro, sou um animal! Sou uma consciência. Sou... indefinível... Livre! sou eu, aqui, agora, sem respostas, sem porquê nem para quês, mas livre e lúcido!

A Florescer...

florescer e/ou rebentar
Einstein in his best!
e claro que a mente é importante!!